Quando falamos de desigualdade, a mesma não se trata apenas de uma análise de classe. Ela é multifatorial e um aspecto se sobrepõe em relação aos outros, que é o de raça. Diversos grupos sofrem com o racismo, seja diretamente ou por suas consequências, porém quando abordamos o contexto brasileiro, historicamente um deles se destaca.
Uma realidade a ser encarada
Segundo o IBGE, 56% da população brasileira é negra. Essa parcela compõe 76% dos brasileiros mais pobres e apenas 17% dos mais ricos. Em 2022, 134 dos eleitos em cargos políticos eram autodeclarados negros, enquanto 370 eram brancos. Nas faculdades de maior prestígio, somente 16% dos alunos são negros. A cada 23 minutos um jovem negro morre por homicídio no Brasil. Como podem ver, em dados de diversas esferas da sociedade, existe um ponto em comum, a desigualdade racial. O passado e o presente do país formaram rios de sangue, e um dos com maior volume, é negro.
Um problema enraizado
Dentro da causa ambiental não é diferente. Os desastres ecológicos e as mudanças climáticas respondem à discriminação e ao preconceito intrínseco à sociedade. A ideia de que as consequências das ações negativas feitas ao planeta afetarão igualmente a todos é superficial, a diferença das classes se apresenta também nisso, e como já dito, é impossível falar de classe sem relacionar raça. Dessa percepção surgiu o termo e uma parte da teoria do que hoje é conhecido como “racismo ambiental”.
Segundo uma matéria da USP, desastres como enchentes e deslizamentos, eventos tão comuns em muitas cidades brasileiras, apresentaram um aumento de ocorrência com ligação direta com as alterações climáticas.
Essas tragédias são mais comuns em áreas onde a ocupação não foi organizada, como em favelas. Locais com origem que remete ao período de abolição da escravatura, quando ex-escravizados necessitaram se alocar nos pontos mais distantes dos grandes centros, devido à ausência de políticas de inclusão dos mesmos, inclusive havendo justamente o contrário, com a famosa Lei de Terras. Um exemplo claro de como a herança colonial ainda hoje se manifesta.
Pensamento sem reflexão é o mesmo que nada
Como mostrado durante todo esse texto, a estrutura do país é racista, logo a busca por uma solução para o racismo ambiental parece um caminho que segue em círculos. Porém, para a resolução de um problema, é necessário antes reconhecê-lo e ter noção de sua dimensão para que haja a compreensão de que as coisas não são do dia para a noite e que o segredo está em sua base.
Como qualquer problema social, sua base é, sem dúvidas, a educação. Muitos fazem da educação um mercado, o que a torna um privilégio, que se espelha em desigualdade de classes. E, é impossível falar de classe, sem que se relacione raça.
Escritor: Matheus Joel, assessor de Marketing e Comercial e graduando em engenharia ambiental.
Revisor: Anna Fátima, assessora de Marketing e Comercial e graduanda em Engenharia Ambiental.
Fontes:
A pobreza brasileira tem cor e é preta | Nexo Jornal.
Número de deputados pretos e pardos aumenta 8,94%, mas é menor que o esperado – Notícias
Como vivem os negros no clube do 1% mais rico do país
A cada 23 minutos um jovem negro está sendo assassinado no Brasil, diz pesquisadora – TV Senado.
Jovens negros ficam fora das faculdades de maior ‘prestígio’ | Brasil | Valor Econômico
Alterações climáticas provocam aumento de enchentes – Jornal da USP