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A polêmica dos Zoológicos: relativização dos maus tratos ou potencial sala de aula?

No atual momento da crise climática, a preocupação ambiental é crescente e impacta decisões de consumidores, e, consequentemente, de empresas. Uma das questões muito discutidas entre ativistas, políticos e a população no geral é a polêmica de zoológicos e aquários, que sofrem diversas críticas de movimentos contra a crueldade animal.

Muitas dessas críticas são bem embasadas, como a incapacidade de um ambiente artificial proporcionar todas as experiências naturais daqueles seres, e os danos que isso causa aos animais, mostrados por exemplo por comportamentos agressivos ou repetitivos (como andar em círculos), que sinalizam ansiedade e outros transtornos. No entanto, fato é que o cativeiro, que definitivamente não é ideal, por vezes é a melhor opção.

Por que esses lugares são importantes?

Eles têm enorme importância, e potencial maior ainda, em educar o grande público acerca das questões ambientais. É evidente que o contato pessoal com a biodiversidade sensibiliza bem mais do que conhecê-la apenas por descrições e imagens, e zoológicos e aquários são as instituições que melhor podem proporcionar esse contato de modo seguro e acessível para todos os envolvidos. Somado à ação de profissionais bem preparados para transmitir o conhecimento e a paixão pela natureza para o grande público, esse potencial de conscientização é catapultado.

O ser humano não se preocupa em conservar aquilo que desconhece, e por vezes, pautado numa mentalidade capitalista e utilitarista, aquilo que não vê aplicabilidade, e zoológicos e aquários atuam em ambas as vertentes. Proporcionam experiências com animais que a maioria das pessoas jamais se depararia normalmente, tanto pelo isolamento geográfico e urbano quanto pela destruição dos ecossistemas que abrigam essas faunas. Também abrigam material para pesquisas das mais diversas áreas envolvendo aqueles seres vivos, como seus efeitos ecológicos e compostos de interesse econômico.

Deveríamos transformá-los em Santuários?

Outro argumento usado por defensores dos direitos dos animais é que o problema dessas instituições é a exposição desses animais à visitação, que visa o lucro e não o bem estar, sugerindo santuários como uma alternativa preferível. 

Apesar de ambos terem papel importante no resgate e reabilitação de animais (e nenhum dos dois pode retirar animais selvagens saudáveis da natureza), o termo santuário não é contemplado pela legislação brasileira, sendo mais próximo dos chamados “mantenedores de fauna”, que não podem fazer reprodução nem exposição do acervo. Isso implica na impossibilidade de perpetuação de espécies ameaçadas e reprodução para reintrodução na natureza, duas linhas de ação fundamentais para a manutenção de ecossistemas, financiadas em grande parte pelos ingressos. 

Ainda assim, a maior parte dos zoológicos no Brasil são públicos, e geralmente são esses os com piores condições para os animais, cuja manutenção, enriquecimento ambiental, manejo e ações de conservação são custosas. Portanto, apesar de implicar em questões éticas de uso dos animais, e biológicas de estresse causado pelo contato com humanos, a visitação (que também precisa de inovações e melhorias) é importante para o funcionamento desses estabelecimentos e ajuda até mesmo no controle de qualidade e bem estar dos animais, já que santuários não estão sob julgamento do público, cada vez mais preocupado com a causa animal, para além da fiscalização de órgãos governamentais.

Exemplo a se seguir

O Zoos Victoria, complexo australiano, rompeu a parceria e removeu de seus estabelecimentos os produtos da Nestlé, após esta falhar com o compromisso de usar apenas óleo de palma sustentável.

Somado a isso, a companhia promoveu uma campanha de conscientização com banners e postagens sobre como a produção de óleo de palma tem graves impactos ambientais e ameaça espécies como orangotangos, tigres e elefantes, e exigindo rotulação mandatória para produtos comercializados com esse óleo na Austrália. O alcance foi tão grande que a empresa perguntou o que poderia fazer para que o Zoos Victoria parasse de veicular essas informações.

Situações a combater

Apesar de toda sua importância, zoológicos e aquários não são perfeitos, e os escândalos não devem ser minimizados a fim de proteger sua imagem, mas é necessário separar os maus exemplos e não contaminar todo seu propósito.

Mau exemplo como o Zoológico de Luján, na Argentina, que era muito famoso pelo contato extremamente próximo de visitantes com os animais, entrando em suas jaulas, acariciando e tirando fotos ao seu lado. Já foi especulado que os animais eram drogados para não se oporem a essas práticas, e até mesmo que os reproduziam para sempre terem filhotes expostos (que agradam o público) e quando cresciam, os deixavam morrer por já não ter a mesma utilidade. Os animais não eram chipados, então não se tinha controle efetivo.

Após anos de suspeitas e denúncias de órgãos e ativistas, apenas durante a pandemia de COVID-19 o estabelecimento foi fechado, por descumprimento de leis trabalhistas. Foram os recém demitidos informais ex-funcionários que protagonizaram o vazamento de fotos das condições de maus tratos. O governo pretende transformar o espaço em um ecoparque.

Educação Ambiental

Assim como a parte científica e conservacional, o âmbito educacional deve ser prioridade nesse tipo de organização. Enquanto os visitantes aproveitam momentos de lazer, visitas monitoradas e guiadas por educadores ambientais capacitados abordando não apenas conhecimentos e curiosidades sobre os animais expostos, mas também o porquê de estarem mantidos em cativeiro, os problemas que estão enfrentando e o papel que as atitudes humanas podem desempenhar na sua resolução ajuda a formar valores de preocupação ambiental e cidadãos mais empáticos com um aprendizado descontraído.

Além disso, devem promover campanhas e eventos, para os quais podem ser contratados ativistas ou empresas como a Âmbar Consultoria Júnior, que ofereçam o serviço de Educação Ambiental, a fim de gerar maior abrangência de temas num espaço com demonstrações práticas dos assuntos abordados e que alcança um grande número de pessoas.

Em síntese, zoológicos e aquários são instituições que hoje são o centro da luta pela conservação animal e a principal (e, às vezes, única) porta de entrada de pessoas para um estilo de vida consciente perante a biodiversidade. A questão não é se eles deveriam existir ou não, mas como podemos melhorá-los?

Escritor: Henriq Narcizo, assessor de Marketing e Comercial e estudante de biologia.

Revisor: Matheus Joel, assessor de Marketing e Comercial e estudante de engenharia ambiental.

Fontes:

Zoos e aquários têm papel importante na conservação – ((o))eco

A importância do educador ambiental em zoológicos e aquários – Parque das Aves

Zoológicos x santuários. Qual é melhor, ou menos pior, entre eles? – greenMe

Zoos x Santuários: uma disputa sem futuro e sem utilidade – ((o))eco

Zoológico que oferecia contato direto com animais fecha portas na Argentina – UOL

Nestlé products removed from Melbourne zoos over palm oil

Don’t Palm Us Off | Sustainable Palm Oil | Zoos Victoria

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